quarta-feira, 31 de março de 2010

Caricias

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Acaricio-te a barriga a suave ondulação
do dorso a fina cintura
onde o barro montanhoso das nádegas
nasce. Beijo-te nos vales mais íntimos
e nos rios - és a mãe carnívora
que vai morrer que se vai derramar
na terra toda.

Casimiro de Brito

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terça-feira, 30 de março de 2010

Sonho

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Não sei se as tuas mãos me tocaram
Tão leves as tuas mãos que nenhuma marca ficou
Tão leves que certamente só me sonharam
Ou as sonhei porque as queria na minha pele
Árida de carícias
Ávida das tuas mãos.
Não sei se foste tu que escreveste com saliva poemas no meu corpo
Poemas rios que me molharam e segredaram
Palavras por ti nunca antes ditas
Não sei se senti rios e pensei poemas
Deserta que estava de palavras e saliva.
Não sei se no meu corpo o teu mora
Tão ténue teu corpo
Tão breve sonhar.

Encandescente

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segunda-feira, 29 de março de 2010

Sua pele

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Sua pele,
Sedenta de amor,
roça na minha,
que num arrepio acorda
e à tua responde.

Clau Assi

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sábado, 27 de março de 2010

Sempre assim

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Os teus dedos escorrendo como leite
como mel como chuva como sumo...

...que sede que silêncio que sonata
que saudade de sermos sempre assim...

Rosa Lobato Faria

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sexta-feira, 26 de março de 2010

Desejos

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Que desejos povoaram a tua noite
E a tua cama?
Que fantasias teceste na noite
E na tua cama?
Que corpo tocaste na noite, sentiste na noite
E na tua cama?
Diz.
Que sonhos sonhaste
Que fantasias teceste
Que corpo tocaste
Na noite
E na tua cama?

Encandescente

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quinta-feira, 25 de março de 2010

Adormecer assim

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Adormecer
assim: inclinado
sobre um rio
em repouso.
A mão esquerda
caída em palma
no crânio; a boca
no ombro no aroma
da pele; o joelho
e a mão direita
na coxa no canteiro ainda
molhado. Acordar assim: ouvir
o breve adágio do corpo amado
a respiração pouco a pouco mais tumultuosa
sob os lençóis subitamente visitados
pelo sol da manhã.

Casimiro de Brito

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quarta-feira, 24 de março de 2010

Se tu viesses

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Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços ...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca ... o eco dos teus passos .
O teu riso de fonte ... os teus abraços .
Os teus beijos ... a tua mão na minha .

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca ..
Quando os olhos se me cerram de desejo .
E os meus braços se estendem para ti. ..

Florbela Espanca

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terça-feira, 23 de março de 2010

Nem todo o corpo é carne

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Nem todo o corpo é carne ... Não, nem todo.
Que dizer do pescoço, às vezes mármore,
às vezes linho, lago, tronco de árvore,
nuvem, ou ave, ao tacto sempre pouco?
E o ventre, inconsistente como o lodo?
E o morno gradeamento dos teus braços?
Não, meu amor ... Nem todo o corpo é carne:
é também água, terra, vento, fogo
É sobretudo sombra à despedida;
onda de pedra em cada reencontro;
no parque da memória o fugidio
vulto da Primavera em pleno Outono
Nem só de carne é feito este presídio,
pois no teu corpo existe o mundo todo!

David Mourão-Ferreira

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segunda-feira, 22 de março de 2010

Ouve-me

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Ouve, meu anjo:
Se eu beijasse a tua pele?
Se eu beijasse a tua boca
Onde a saliva é mel?

Tentou, severo, afastar-se
Num sorriso desdenhoso;
Mas aí!,
A carne do assasssino
É como a do virtuoso.

Numa atitude elegante,
Misterioso, gentil,
Deu-me o seu corpo doirado
Que eu beijei quase febril.

Na vidraça da janela,
A chuva, leve, tinia...

Ele apertou-me cerrando
Os olhos para sonhar -
E eu lentamente morria
Como um perfume no ar!

Antonio Botto

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domingo, 21 de março de 2010

Sonho ou mentira

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...
Tu chegavas de tão longe que eu não te podia tocar
como se viesses de um sonho ou de uma mentira
o teu corpo era cruel como o nevoeiro
e onde ardia o amor eu era apenas um corpo

Pedro Sena-Lino

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sábado, 20 de março de 2010

Toca-me

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Toca-me,
conjuga um verbo que conheças
no presente do indicativo,
soletra-o na segunda pessoa
do singular ao meu ouvido,
dá-me qualquer coisa
que me pareça eterno.

José Rui Teixeira

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Vem

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Vem,
escreve comigo todas as palavras, os gritos,
os segredos que só nós sabemos.
As mãos e a boca saciando a fome que não finda.
Tudo é domarmos o destino,
o bridão nas nossas mãos, galope pleno.
Qualquer profundidade, a construiremos os dois,
com a vida subindo-nos à garganta.

Só colado ao teu , meu corpo se sabe corpo.
Por isso para que nada se perca,
para que não nos percamos, vem.

Silvia Chueire

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Dize-me tu

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Diz-me tu como te amo.
Tu.
Que me tomaste as palavras
Que me tornaste desejo
E a quem em silêncio chamo
E a quem ardendo amo
Diz-me tu, meu amor.
Diz-me tu de nós.

Encandescente

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quarta-feira, 17 de março de 2010

Último abraço

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Este foi o nosso último abraço.
E quando,
daqui a nada, deixares o chão desta casa
encostarei amorosamente os lábios ao teu copo
para sentir o sabor desse beijo que hoje não daremos...

Maria do Rosário Pedreira

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terça-feira, 16 de março de 2010

Por isso me perco...

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O meu passaporte
são as tuas mãos; o mapa que nos guia,
a respiração incerta do desejo.

«Por isso me perco», dizes.

«Por isso te encontro», respondo.

E a noite que
nos separa é o dia que nos reúne.

Nuno Júdice

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segunda-feira, 15 de março de 2010

O piano

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Decifra-me.
Se me queres,
tenta-me.
Há portas que estão
apenas aparentemente
fechadas. Abre-as.
Uma delas dá acesso a
uma sala e dentro dela
há um piano. Entra.
E toca-me.
Se teus dedos produzirem
música, terás
me aprendido.

Nalú Nogueira

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domingo, 14 de março de 2010

Memórias de mi piel

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Mi piel tiene memorias de tus manos
recorriendo el desnudo de mi entrega
tiene tu aroma
tu costado tu aliento
tu sabor
tu triunfo
mis derrotas
Mi piel tiene sonidos de ternuras
vibrando
cada encuentro en la penumbra
tiene tus restos y tus rastros
la luz opaca del deseo
y el rostro del amor
amaneciendo

Ana Maria Mayol

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sábado, 13 de março de 2010

Entrever

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Apenas te entrevi
e sei
das tuas mãos
- quanto mar a me tocar o corpo.
dos teus olhos entreabertos
- quanto céu a me dizer palavras.

Silvia Chueire

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sexta-feira, 12 de março de 2010

Move-se

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E contudo... O corpo move-se
Apesar do cansaço
Alagado em suor
O desejo reaceso
Que julgavas saciado
A vontade e o querer
Que julgavas satisfeitos
E despertam os sentidos
Que julgavas adormecidos
Quando na tua a minha boca diz
- Quero mais e mais de ti.

Encandescente

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Escrava

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Teu poema, inclemente, me encarcera,
umedecendo, de gozo, os meus versos.
Espancando, com a pena, as minhas rimas,
se assanha, feito bicho, entre meus seios.

Teus dedos em tuas mãos; ágeis tentáculos,
aprisionam de vez minhas vontades,
deixando-me à mercê dos teus domínios,
amarrando-me os pulsos, como escrava.

O ar que me vem é da tua boca.
Meus gemidos quem sufoca é tua língua.
Teu verbo, desconexo aos meus ouvidos,
me faz louvar - indecente - o teu nome.

Em minha barriga, passeia impune o teu falo.
Sob teu corpo, o meu, é prazer e desgoverno.
Entre minhas coxas tu desenhas tua fúria,
em teu pescoço cravo dentes de poesia.

Mariza Lourenço

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quarta-feira, 10 de março de 2010

Nu e cru

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Envolve-me docemente.
Que os teus braços sejam abraço
envolvente.
Sem pressas manso com vagar devagar de-
va-ga-ri-nho.
Isso. Assim.

Mão na nuca com dedos vincados que
esmaguem meus lábios bem abertos contra
os teus em oferta. Que as línguas se
toquem, se entrelacem e deslacem nossos
corpos.
Isso. Assim.

Encosta-te, enrosca-te e sente o que
endurece, em mim e em ti, sob botões
arrancados à força, num repente
alucinado. Os lábios beijam. Os dentes
mordem.
Isso. Assim.

E, chegados aos ouvidos, aflorados os
lóbulos pelos recantos mais recônditos,
que os lábios sussurem, murmurem, repitam
e gritem, sem receios nem temores nem
medos nem terrores de que as paredes
oiçam e os vizinhos estremeçam...
Isso... Assim... Em uníssono...

...

Isso... assim...
Nus e crus.
O texto...
Eu e
tu.

Daniel Santiago

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terça-feira, 9 de março de 2010

Como quem morre

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...Como posso falar
Do desespero
Se a força do desejo
Em tua boca
É um delírio de pragas
E de beijos,

Se a angústia de perder
O que me mata
Faz-me a vida odiar
Mais do que a morte,

Pois que ao perder-te
Perco mais que a vida,
Perco o sonho, a memória,
A fantasia...

E este gosto de viver
Como quem morre.

Myriam Fraga

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segunda-feira, 8 de março de 2010

Meu prazer

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...
sou mulher que
— à distância —
goza um gozo doído
quando escuta seu homem dizer:
amor... assim?
e, gemendo, responde:
ai, amor... é sim.

Mariza Lourenço

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domingo, 7 de março de 2010

Eu sem ti

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...mas eu, sem ti, deito-me gelada sobre a cama
e digo palavras que queimam a boca por dentro - amor,

saudade, o teu nome e o nome das coisas que tocaste...

Maria do Rosário Pedreira

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sábado, 6 de março de 2010

Desatinos

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É pelas pontas dos meus dedos
caminhando na direcção da tua voz
que desliza um rio de desatinos
a descer meu ventre.

o coração tocado por um afecto longínquo
e tão próximo
que arde a minha pele.

Silvia Chueire

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sexta-feira, 5 de março de 2010

Ai, a tua boca...

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A tua boca
Ai a tua boca
Que me diz palavras loucas
Roucas abafadas
Entrecortadas de gemidos
Húmida a paixão na tua boca
Que a minha procura e cala
E morde e cola
Palavras minhas às tuas
Gemidos meus aos teus
E as tuas mãos…
Ai as tuas mãos
Impacientes curiosas
Furiosas
Abrem trilhos e caminhos
Rasgam espaços entre os braços
Os meus que se entrecruzam
E lutam e se rendem
E se baixam e retidos
Corpo rendido nas tuas mãos…
E o teu sexo
Que o meu roça e se encosta
E foge nas minhas pernas
E desce nas minhas coxas
E subitamente de repente
Me invade me preenche
Me completa
E eu repleta
E na tua boca…
Ai as palavras loucas
Que digo na tua boca.

De Encandescente

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quinta-feira, 4 de março de 2010

No es amor

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No es amor, no es amor
el estremecimiento que me ofreces,
la dependencia dócil del deseo,
no es amor.
La piel de transparente se hace alma
que el sudor cristaliza, puramente
transfigurada; pero es sólo el tiempo
que tarda ese tirano de tu cuerpo
en hacerse notar en estampida.
No es amor, lo conozco; yo no sé
qué cosa sea, pero no es amor.

Josefa Parra

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quarta-feira, 3 de março de 2010

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Se ouço falar de ti, comove-me o teu nome
(mas nem pensar em suspirá-lo ao teu ouvido);
se me dizem que vens, o corpo é uma fogueira -
estalam-me brasas no peito, desvairadas, e respiro
com a violência de um incêndio; mas parto
antes de saber como seria...

Maria do Rosário Pedreira

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terça-feira, 2 de março de 2010

Amor

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Cala-te, a luz arde entre os lábios,
e o amor não contempla, sempre
o amor procura, tacteia no escuro,
essa perna é tua?, esse braço?,
subo por ti de ramo em ramo,
respiro rente á tua boca,
abre-se a alma à lingua, morreria
agora se mo pedisses, dorme,
nunca o amor foi facil, nunca,
também a terra morre.

Eugénio de Andrade

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segunda-feira, 1 de março de 2010

Procuro-te

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... Procuro-te
com os dedos da alma no mar obscuro do desejo,
como se não estivesses dentro de mim,
para lá do limite desta página,
rompendo a censura das horas -
amada secreta de uma noite,
e de todas as noites em que te sonho...

Nuno Júdice

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