quinta-feira, 31 de março de 2011

Fazer estrelas



Fazer amor como
quem faz estrelas
pari-las
vê-las
surgir em explosões
orgásticas
fantásticas
beleza plástica
de pernas entrelaçadas
peles entremeadas
ungidas
pêlos, sêmen,
suores bênçãos
soluços cálidos
sussurros tímidos
urgentes.
Passear a língua no
corpo
como alpinista
montes, depressões
escalas, o pico
o ápice
o pênis pulsa
tórrido
mármore
a língua feito artista
a desenhar sóis
nos mamilos
pernas abertas
frondosas árvores
sulcos
suculentos frutos
saliva
filetes
falsetes das vozes
roucas.

Nalú Nogueira


terça-feira, 29 de março de 2011

Quero um homem



Quero um homem
que toque minha alma,
que entre pelos meus olhos
e invada meus sonhos.

Quero que me possua inteira,
corpo e alma,fazendo dos meus desejos
breves segundos de êxtase
o prazer do encontro total.

Quero sentir seus braços longos
envolvendo meu abraço,
seus lábios mudos
calando o meu silêncio

sem precisar nada dizer...
apenas me olhando
com olhos negros e úmidos
e me tomando devagar,

como o mar avança na praia,
como eu sei que tem que ser
e sei que um dia será.

Cláudia Marczak


domingo, 27 de março de 2011

Profana



Nesta hora santa,
orai em meu altar de linho.
Dominus vobiscum!
Meu senhor está em mim.
Bendita sou entre as mulheres!
Alisai-me com carinho,
Curvai-vos,
Beijai meu ventre
E entre orações
E cantos
Explorai meus encantos.
Abri minha alma-missal:
Sou a boa-nova
Que se renova a cada leitura
Em mim, profana escritura.
Tomai meu seio:
É o vosso pão,
Pão da vida
Retorcida de prazer.
Comei-o com sofreguidão.
Levai meu cálice à boca,
Bebei do vinho que escorre.
Quem bebe deste vinho
Só morre de amor.
Vinde a mim,
Vosso reino,
Sou ofertório inteiro.
Comungai...comungai meu prazer
Amai-me
- Amém.

Emília Casas


sexta-feira, 25 de março de 2011

Inebriantes



Minha mente é só desejo:
Minha boca clama pelo teu beijo,
Meu corpo pulsa pelo teu toque,
Meu ser estremece pelo teu olhar.

Eu sou,
inteiramente,
lua,
nua,
tua.

Desejo acima de desejo
Corpo sustentando corpo
Alma comportando alma.

Tu
infinitamente
no meu
íntimo...

Nós dois
Inebriantes
Na dança do amor
A tocar
A sentir
A gozar
Na explosão do depois...

Ana C. Pozza


quarta-feira, 23 de março de 2011

Soneto da posse




Amar é possuir. Não mais que o gozo
quero. Não sei porque desejas tanto
escravizar-me; escravizar-te. Quanto
menos me tens, mais me terás. Gostoso

é ser-me livre, alegre, escandaloso –
o peito aberto pra cantar meu canto;
os olhos claros pra ver todo encanto;
as mãos aladas, pássaros sem pouso.

Abre-me o corpo, vem dá-me o teu vale,
e a esconsa flor que ocultas hesitante,
pois o que falo o falo sem que fale

em tom de amor. Quero vaivem, espasmo -
um corpo a corpo num só corpo palpitante,
dois no galope até o sol de um só orgasmo.

Ildásio Tavares



segunda-feira, 21 de março de 2011

Sob medida




Se você crê em Deus
Erga as mãos para os céus
E agradeça
Quando me cobiçou
Sem querer acertou
Na cabeça
Eu sou sua alma gêmea
Sou sua fêmea
Seu par, sua irmã
Eu sou seu incesto
(seu jeito, seu gesto)
Sou perfeita porque
Igualzinha a você
Eu não presto
Eu não presto
Traiçoeira e vulgar
Sou sem nome e sem lar
Sou aquela
Eu sou filha da rua
Eu sou cria da sua
Costela
Sou bandida
Sou solta na vida
E sob medida
Pros carinhos seus
Meu amigo
Se ajeite comigo
E dê graças a Deus
Se você crê em Deus
Encaminhe pros céus
Uma prece
E agradeça ao Senhor
Você tem o amor
Que merece.

Chico Buarque de Hollanda



sábado, 19 de março de 2011

Desejo



Ah! que eu não morra sem provar, ao menos
Sequer por um instante, nesta vida
Amor igual ao meu!

Dá, Senhor Deus, que eu sobre a terra encontre
Um anjo, uma mulher, uma obra tua,
Que sinta o meu sentir;

Uma alma que me entenda, irmã da minha,
Que escute o meu silêncio, que me siga
Dos ares na amplidão!

Que em laço estreito unidas, juntas, presas,
Deixando a terra e o lodo, aos céus remontem
Num êxtase de amor!

Gonçalves Dias


quinta-feira, 17 de março de 2011



Trago-te
nas linhas das minhas mãos
cujas veias assimétricas
entoam cânticos de galos
que embriagados de silêncio
bicam os meus loucos desejos
molhados com o nascer da aurora.

Dissolves-te
em transparências de pura seda
cravadas nas impressões digitais
que sofregamente beijas
sem respeitares nunca os sinais.

Apesar do stop, tu avanças
Lambes-me o céu-da-boca
Mordes-me os lábios sedentos
Enrolas-te na minha língua.

Encontro-te
Desejo-te
Afago-te
Devoro-te!

Enterneço-te
Com o feitiço das minhas mãos
que te amam em alvoroço
percorrendo a auto estrada da tua pele
como se eu fosse a abelha e tu o mel
no oásis do teu corpo todo aberto
ao cardume dos meus desejos.

Vóny Ferreira


terça-feira, 15 de março de 2011

Poeminha viscoso



Em meio a teu visgo
me sinto emplastrada
feliz e cansada

Eliana Mora


domingo, 13 de março de 2011

Vieste...



Vieste, e fizeste bem.
Eu esperava,
queimando de amor;
tu me trazes a paz.

Safo


sexta-feira, 11 de março de 2011

Movimento



Quero devagar...
Quero divagar...
Devagar, divagar.
Divagar, devagar.
Contrair, dilatar,
Retrair, delatar.
Diminuto amor
Amor de minuto.
Reflexo, perplexo,
Complexo
Total.

Ana Paula Vieira


quarta-feira, 9 de março de 2011

Seios



Teus seios pequeninos que em surdina,
pelas noites de amor, põem-se a cantar,
são dois pássaros brancos que o luar
pousou de leve nessa carne fina.

E sempre que o desejo te alucina,
e brilha com fulgor no teu olhar,
parece que seus seios vão voar
dessa carne cheirosa e purpurina.

Eu, pare tê-los sempre nesta lida,
quisera, com meus beijos, desvairado,
poder vesti-los, através da vida,

para vê-los febris e excitados,
de bicos rijos, ávidos, rasgando
a seda que os trouxesse encarcerados.

Hildo Rangel


segunda-feira, 7 de março de 2011

Útil estima


De suas partes
a que mais gosto
é a que tem vontade própria
a que se levanta em riste
e que, às vezes, obedece à minha vontade:
uso e abuso,
ordenho a haste,
corro riscos,
devoro e devolvo,
e depois
de maravilhosamente gozada,
me encara e dorme.

Mônica Bandeiras


sábado, 5 de março de 2011

Poema Kamasutra



Fervendo de desejo
Teus lábios beijo
Desvio pro pescoço
Cheiro gemo e desço
De súbito tropeço
Há uma elevação
Não agora vejo
Duas são
E se me dão
Subo até os picos
E languidamente
Lambo os bicos
Como se num tobogã
Escorrego e acabo
Num bico ao contrário
É o umbigo!
Seguindo adiante
Me perco num mato
Me acho num riacho
Minha sede mato
Depois olho melhor e ...
Será boca ou será flor?
Tem lábios e também exala
Inebriante odor
Ai que delírio esse torpor!
Bem mas agora
Já não aguento tanta dor
Estou pronto e quero pôr
Pra te conhecer melhor
Em teu mundo interior

Alexandros Papadopoulos


quinta-feira, 3 de março de 2011

Cantiga




Me ame
que te amo
quando você
me ama

Te amo
quando você
me ama
pr'eu poder
te amar

Amemo-nos
leves
como (sempre
como) anêmonas:

acéfalos
com mil braços
disfarçados
de pétalas

Orlando Lopes


terça-feira, 1 de março de 2011

Amor




Amor?

Deito-me sobre tantas coisas inúteis
e me pergunto o que valerá
todo o esforço?

Este poema banal
- qualquer deles -
trata-se de traduzir o intraduzível?

A avalanche de microacontecimentos

despencando pelo nosso dorso,
a pele respondendo elétrica;
entre os dedos a escapar-nos;
sob os olhos,
através dos nossos sexos,
e do cataclismo do gozo,
dos corpos,
ou dos pensamentos, que correm
à busca de significado.

O que valerá a minha presença sem sentido
neste mar de sentidos a entrechocarem-se,
neste caos, sem linguagem que o signifique
a não ser o amor que vivi,
vivo,
viverei?

Silvia Chueire


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