quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Elogio do pecado




Ela é uma mulher que goza
celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza

você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.

É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa

Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa.

Bruna Lombardi


terça-feira, 20 de novembro de 2012

Bainha aberta




Crava em meu corpo essa espada crua.
Quero o ardor e o êxtase da luta
em que me rendo voluntária e nua.
Meu temor é a paz pós-união:
desenlace derrota solidão.

Astrid Cabral  


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Invenção




Depois de te conhecer
inventei uma nova natureza
para o silêncio das minhas águas

Natureza mar
que prolongas as margens do olhar
e banha o areal do meu corpo

Natureza rio
que faz o seu leito entre os teus seios
e se estende no estuário da vida

Natureza barco
que navega pelas noites de luar
sulcando a magia do invisível

Inventada a natureza em que me apoio
abraço-a com mãos de medo

António Sem


domingo, 18 de novembro de 2012




... Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
por vê-los nus e suados.

Eugénio de Andrade


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Poeminha viscoso




Em meio a teu visgo
me sinto emplastrada
feliz e cansada

Eliana Mora

terça-feira, 13 de novembro de 2012




De olhos fechados, quando, alta noite, no outono,
Respiro o cheiro bom dos teus seios fogosos,
Vejo entreabrir-se além cenários deleitosos
Cintilando ao ardor de um sol morno de sono.

Baudelaire

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Frenesi



Noite de Luar,
eu, nua e crua,
e tu a me devorar.

Paty Padilha


domingo, 11 de novembro de 2012




Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo esse?
Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?
É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)?
Ou é apenas uma parte desse corpo? E nesse caso, o que, nesse corpo amado,
tem tendência de fetiche em mim?
Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente?
O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar?
De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis.
Adorável quer dizer: este é meu desejo, tanto que único:
“É isso! É exatamente isso (que amo)!”

Roland Barthes


terça-feira, 6 de novembro de 2012




Não se pode receber prazer sem dar prazer;
que cada gesto, cada carícia, cada aspecto,
cada parte do corpo esconde em si um segredo,
cuja descoberta causará delícia a quem a fizer.
Dela aprendia Sidarta que os amantes não devem separar-se
após a festa do amor, sem que um parceiro sinta admiração do outro;
sem que ambos sejam vencedores tanto como vencidos,
de maneira que em nenhum dos dois possa surgir a sensação de enfado
ou de vazio e ainda menos a impressão desagradável
de terem-se maltratado mutuamente.

Hermann Hesse


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