domingo, 22 de maio de 2016

Noturno



Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.

Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,

dançam livres como libélulas
em redor do fogo.


Henriqueta Lisboa


quinta-feira, 19 de maio de 2016

Os Amantes




As palavras amendoam o sorriso,
amado, amada
conversam e conversam,
deitados lado a lado

depois, e devagar,
maciamente
passam à pele absoluta do silêncio.

Isabel Cristina Pires



quarta-feira, 18 de maio de 2016

Poema Quinquagésimo Sétimo



Escrevo-me como se fosse
um poema, para dizer quanto te amo.
E levo, num beijo, essas palavras até à tua boca,
ofereço-tas, ansiosas e úmidas, com a mais doce
impaciência. Sorves na tua boca a minha língua
que canta todo o amor, que dá recados vibrantes
à tua carne, e faz do tamanho da noite as tuas pupilas.
Pergunto-me porque cantas e porque canto
quando a minha boca e a tua boca são uma boca
apenas, um corpo apenas, um longo poema
com uma só palavra.

Joaquim Pessoa
em "Guardar o Fogo"


terça-feira, 10 de maio de 2016

.

.


Quimica boa é quando mesmo de longe,
você escuta a vontade gemer.


Sylvia Pereira

quinta-feira, 5 de maio de 2016



O momento das carícias voltou a entrar no quarto,
pediu desculpa por ter-se demorado tanto lá fora,
Não encontrava o caminho, justificou-se, e,
de repente, como aos momentos algumas vezes acontece,
tornou-se eterno.

José Saramago



quarta-feira, 4 de maio de 2016

Sob o chuveiro




Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo — é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fonte?

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 3 de maio de 2016

Ida e volta



Quando nos encaminhamos para o amor
todos vamos ardendo.
Levamos amapolas nos lábios
e uma centelha de fogo no olhar.
Sentimos que o sangue
nos golpeia as têmporas, as pelves, os pulsos.
Damos e recebemos rosas vermelhas
e vermelho é o espelho do quarto na penumbra.

Quando voltamos do amor, vagarosos,
desprezados, culpados
ou simplesmente estupefatos,
regressamos muito pálidos, muito frios.
Com olhos e cabelos envelhecidos e o número
de leucócitos nas alturas,
somos um esqueleto e sua derrota.

Porém continuamos indo.

Amalia Bautista

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