O desejo revolvido
A chama arrebatada
O prazer entreaberto
O delírio da palavra
Dou voz liberta aos sentidos
Tiro vendas, ponho o grito
Escrevo o corpo, mostro o gosto
Dou a ver o infinito
Maria Teresa Horta
Cari Lobo
Há alguém no mundo, não sei onde,
ou antes sei,
mas prefiro esquecê-lo,
que me despe só com um olhar
e me sonha vestida de princesa.
Alguém com quem não posso resistir
a arder debaixo do chuveiro.
Alguém com quem se torna inevitável
suar dentro de um iglu.
Amália Bautista
de
leve
pôs o dedo
e
provou
gostoso gosto
sentido sem reserva
pôs o dedo
pôs
de novo
e suspirou gostando
muito
dedo bom
de mira certa
brincadeira
de quem
o gostoso da
vida
tirar sabe
CatiahoAlc.
É nesse ponto
de tuas coxas
que o meu pescoço
implora a forca
Mas dás-lhe o trono
da luz da sombra
num sorvedouro
de rosas roxas
Agreste gosto
de húmida polpa
o que dissolvo
dentro da boca
Eis num renovo
mágica força
Rei me coroo
em tuas coxas
David Mourão-Ferreira
"XXII" in O Corpo Iluminado
vem e se perca no meu corpo
vem como se fosse um rio caudaloso
em busca de uma foz pra desaguar.
vem, vem
mas vem sem pressa
com urgência, mas sem pressa
o tempo já parou nessa hora
parou só prá nós.
fique,
sem pressa,
mas com urgência
pois o tempo é nosso
e é tão breve, tão breve.
Dalva Nascimento
Tanto faz se faz tanto frio
ou se, lá fora,
a chuva obsessiva percorre seus caminhos verticais
e desliza pelo telhado para nos espreitar pelas vidraças.
Aqui dentro,
danço acesa
e palavras líquidas encharcam nossos corpos de saliva
nessa eterna brincadeira que inventamos
de apagar labaredas com a língua.
Marla de Queiroz
Pedro Chagas Freitas
Ficas dentro de mim, como se fosse
eterno o movimento do teu corpo,
e na carne rasgada ainda pudesse
a noite escura iluminar-te o rosto.
No teu suor é que adivinho o rastro
das palavras de amor que não dissestes,
e no teu dorso nu escrevo o verso
em pura solidão acontecido.
Transformo-me nas coisas que tocastes,
crescem-me seios com que te alimente
o coração demente e mal fingido;
depois serei a forma que deixastes
gravada a lume com sabor a cio
na carícia de um gesto fugidio.
Antonio Franco Alexandre