terça-feira, 31 de maio de 2011



Há alguém no mundo,
não sei onde,
ou antes sei,
mas prefiro esquecê-lo,
que me despe só com um olhar
e me sonha vestida de princesa.

Amalia Bautista


domingo, 29 de maio de 2011

Retrato de Mulher




Seu velado sorriso fertiliza
a paisagem estéril ao fundo
de seus olhos insinuantes
agitam meu oceano libídico.

A ausência de rosas, dálias,
papoulas, margaridas…
de flores não afasta de você
a primavera, mesmo após várias luas.

O retrato perde-se na moldura,
mas a mulher é o abismo de aromas,
corredor presente de vôos possíveis
onde debilmente macho
tateio meu futuro infantil.

Em suas fontes, matas,
montes e curvas de além-mar,
dedilho, navegante, a música de
toda minha existência.

Carlos J. Tavares Gomes


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Estranho furto



Na noite silenciosa e azulada,
No pousar do orvalho sobre as ramagens,
Durante o repouso sereno das aves,
E no desabrochar das damas da noite.

Quero roubar teus sentidos a mão armada,
Assaltar teu corpo e recolher teus sentimentos,
Como larápia discípula de cupido!

Quero pegar-te desarmado,
Numa hora qualquer desta noite.
Amanhã, não importa! ...

Quero que teu coração se surpreenda,
Se assuste e me prenda em teus afetos.
Depois, no calabouço dos gemidos,
O tilintar das correntes partindo,
No auge dos apertos e abraços sôfregos...

Passarei a vida na cadeia das quimeras,
E nas grades deste grande amor,
Narrando a história de um estranho furto,
Entre um homem tímido e uma mulher apaixonada.

Ruth Souza Saleme


quarta-feira, 25 de maio de 2011

...



Eis o centro do corpo
o nosso centro
onde os dedos escorregam devagar
e logo tornam onde nesse
centro
os dedos esfregam - correm
e voltam sem cessar
e então são os meus
já os teus dedos
e são meus dedos
já a tua boca
que vai sorvendo os lábios
dessa boca
que manipulo - conduzo
pensando em tua boca
Ardencia funda
planta em movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
que trepa e fende fundidas
já no tempo
calando o grito nos pulmões da tarde
E todo o corpo
é esse movimento
em torno
em volta
no centro desses lábios
que a febre toma
engrossa
e vai cedendo a pouco e pouco
nos dedos e na palma

Maria Teresa Horta


segunda-feira, 23 de maio de 2011

A voz

Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos que me
vogam
nos cabelos
e os lábios que me
roçam pela boca
nesta mansa tontura
em nunca tê-los...
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Mas porque assim te invento
e já te troco as horas
vou passando dos teus braços
que não sei
para o vácuo em que me deixas
se demoras
nesta mansa certeza que não vens.

Maria Teresa Horta


sábado, 21 de maio de 2011

Ele



Agarra-me os cabelos
Morde-me os braços
Beija-me os dedos
E não me diz nada
Não me toca sequer.
Mas para eu me sentir amada
E me sentir mulher
Bastam-me os seus olhos...

Até que eu solte de mim
O cio da fera
Que ando a mascarar de branca asa
E o arraste por fim
Sem pudor sem roupa
Para a minha casa!

Julieta Lima


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Diz




Sim, pode falar.
Fale de paixão
fale de tesão
fale do teu jeito
que não é maldito
fale sussurrando tudo
ao meu ouvido
como um zumbido
de prazer.

Diga... diga que está apaixonado
diga que és o meu amado
desde outra vida
e que nada será violado
além da paixão
e que sempre haverá o cuidado
de nos pertencer...
... proteção...

Diz que desejas o meu último sorriso
Diz tudo aquilo que eu preciso
Diga o que quer
e o que não quer
teu coração...
É tudo permitido
êxtase de emoção.

Isabel Machado


terça-feira, 17 de maio de 2011

O seu santo nome



Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

Carlos Drummond Andrade


domingo, 15 de maio de 2011

Hoje podes deitar-te na minha cama



Hoje podes deitar-te na minha cama
e contar-me mentiras - dizer, não sei,
que o amor tem a forma da minha mão
ou que os meus beijos são perguntas que
não queres que ninguém te faça senão
eu; que as flores bordadas na dobra do
meu lençol são de jardins perfeitos que
antes só existiam nos teus sonhos; e que
na curva dos meus braços as horas são
mais pequenas do que uma voz que no
escuro se apagasse. Hoje podes rasgar
cidades no mapa do meu corpo e
inventar que descobriste um continente
novo - uma pátria solar onde gostavas
de morrer e ter nascido. Eu não me
importo com nada do que me digas esta
amo-te, e amar-te é reconhecer o
pólen excessivo das corolas, o seu vermelho
impossível. Mas amanhã, antes de partires,
não digas nada, não me beijes nas costas
do meu sono. Leva-me contigo para sempre
ou deixa-me dormir - eu não quero ser
apenas um nome deitado entre outros nomes.

Maria do Rosário Pedreira


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ligações cruas



Gemeu a escuridão...
No abraço silencioso
entre o muro e a noite,
tombaram os corpos.
Sobre as almas,
escorreram a dor e a paixão...
Por todas as esquinas,
esqueceram seus beijos
os amantes nictálopes.
Cada beco
ficou úmido, extático...
Tocaram, trocaram-se.
Um gomo de prazer
fartou o sono.
Assim,
o sexo se ajoelhou
perante as estrelas
e transpirou amor.

Agostina Akemi


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sexus Nexus Plexus



Sexus , nexus , plexus
pensava Henry Miller .

Mas , para mim , mais que tudo ,
quero sexus sem muito nexus

e com muito , muito plexus
ou vários e inusitados amplexos .

Plexo solar , central , umbilical
e todas as adajacências acima e abaixo

descobertas e hiperfuncionais
ao simples toque dos dedos ,

curiosos , desejosos , ledos .
Quero sexus sem nexus algum ,

pois não há nexus nesse desejo
que me move amedronta e alimenta

na estrada tormentosa
em que me desacorrento.

Paulo F. Cunha


sábado, 7 de maio de 2011

Permite minha ousadia



Se tua boca me desses
E teus lábios me beijassem,
Quem sabe, amor, não fizesses
Que nossos corpos se amassem.

Se a tua pele se entregasse,
Desinibida ao meu tacto,
Quem sabe não te levasse
A uma união de facto.

Se ao menos te permitisses
A aceitar o que proponho….
Talvez a porta me abrisses
E eu entrasse no teu sonho.

Te entregasses ao desejo
Me aceitasses com ternura,
E depois dum longo beijo
O arrepio da loucura.

Depois queimar-te na chama,
No fogo que tenho em mim…
Salta a fogueira, me ama,
Abre-te e diz-me que sim.

Entrega-te à fantasia
Na maior intimidade,
Permite minha ousadia
Deixa que te ame, à vontade.

Ab Galvão


quinta-feira, 5 de maio de 2011

Mar de Setembro



Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
Fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves, só
alma e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto,
puríssimo, doirado.

Eugenio de Andrade


terça-feira, 3 de maio de 2011

O amor é o amor



O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?...

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor
e trocamos - somos um? somos dois?-
espírito e calor!

O amor é o amor - e depois?!

Alexandre O'Neill


domingo, 1 de maio de 2011

Perfumada


Ainda toda quente da roupa tirada
fechas os olhos e moves-te
como se move um canto que nasce
vagamente mas em toda a parte

Perfumada e saborosa
ultrapassas sem te perder
as fronteiras do teu corpo

Passaste por cima do tempo
Eis-te uma nova mulher
revelada até ao infinito.

Paul Éluard


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