quinta-feira, 30 de julho de 2009

Amor urgente

.

.
O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.
.
Carlos Drummond de Andrade
in O Amor Natural

.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Provérbio

.
.
Meu corpo
é um tear vertical
onde deixaste cruzadas
as cores da tua vida : duas faixas um losango
marcas da peste.
.
Meu corpo
é uma floresta fechada
onde escolheste o caminho
.
Depois de te perderes
guardaste a chave e o provérbio.

.
Ana Paula Tavares

.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Voraz

.

.
Sou voraz não me apego
ao abrigo da alma
Sou o corpo o incêndio
só o fogo
me acalma


Maria Teresa Horta
Inquietude - Poesia Reunida

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A dança da natureza

.

.
Dá-me por esta noite a carne ainda quente de um beijo,
uma pedra de fogo que possa incendiar outra pedra,
dois remos para navegar águas escuras,
...
Um rio, meu amor, dá-me por esta noite um rio
que comece no teu corpo de neve,
atravesse o tempo, a luz vertiginosa,
e se afogue nos meus olhos
....

.
eu dou-te o nome do silêncio...
.

Alice Macedo Campos,
In "O ciclo menstrual da noite"


.

sábado, 25 de julho de 2009

Tatoo

.
.
... Podes dizer ao mundo inteiro que estas letras são tuas
.... Podes dizer a toda a gente que um
dia te amei e que foste tu quem me fez poeta....
Que os cigarros que fumei
ansiosa e apressadamente foram pela saudade do teu corpo....
.
Quando te perguntarem se um dia me conheceste, diz que sim.
Responde um afirmativo de poder e de vontade....
Podes contar ... que... um dia me fizeste rainha....
.
José Eduardo Agualusa
in Egoísta, nº 32


.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Striptease

.
.
De mim, tirei peça por peça:
As roupas
rotas que estavam de passado
O coração
para que não esperasse nenhum apelo
O sexo
entre silenciosas pedras de fogo
O amor
que se condenou à paixão
O sangue
pássaro vermelho jorrando assustado
As palavras
antes que fugissem pelos ouvidos
A pele
com estampas já desbotadas
Os braços
para que não mais aquecessem seu corpo
as pernas
que já não queriam me carregar nessa vida
Os cabelos
para que se renovassem como leve nuvem
Os olhos
para que não se nublassem à claridade do dia
As mãos
para que não mais buscassem o rosto desamado
O nariz
para esquecer o cheiro de imagens deslembradas
O pensamento
que me feria as madrugadas
Os ouvidos
para que não ouvissem os silêncios insones
os pés
que, ave ferida, iriam te buscar sempre...
Os dedos
que nunca desataram meus nós
o meu canto
que me desliza triste ante à luz que se esconde
e finalmente
finalmente o meu corpo
para que não se curve colhendo as conchas do tempo...
.
Nilze Costa e Silva

.

Amar

.
.
Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
.
Carlos Drummond de Andrade

.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Existes

.
.
Nada garante que tu existas.
Näo acredito que tu existas.
.
Só necessito que tu existas.
.
.
David Mouräo Ferreira
.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Amai ainda mais

.
.
Vós, que sofreis, porque amais,
amai ainda mais.
Morrer de amor
é viver dele.
.
Victor Hugo

.

Insonia

.
.
Desperta-me de noite
O teu desejo
Na vaga dos teus dedos
Com que vergas
O sono em que me deito
.
É rede a tua lingua
Em sua teia
É vicio as palavras
Com que falas
.
A trégua
A entrega
O disfarce
.
E lembras os meus ombros
Docemente
Na dobra do lençol que desfazes
.
Desperta-me de noite
Com o teu corpo
Tiras-me do sono
Onde resvalo
.
E eu pouco a pouco
Vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
Vais descobrindo vales.
.
Maria Tereza Horta
.

Eu te amo

.
.
...
Eu te amo pelas tuas faltas
e pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas,
minha vida.
.
Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.
.
Poema de autor desconhecido, declamado por Maria Bethânia
em "Maricotinha ao Vivo", e cujos direitos autorais são reservados.

.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Sede

.
.
Beber-te-ia
depositados os lábios na borda
de cristal
em goles lentos
a canção a ressoar no corpo
.
Beber-te-ia
nas pernas desordenadas do tempo
hoje ontem
amanhã
.
Silvia Chueire


.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails