segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Toma-me



Toma-me.
A tua boca de linho sobre a minha boca austera.
Toma-me agora, antes
Antes que a carnadura se esfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo. Da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa
De púrpura. De prata. De delicadeza.

Hilda Hilst

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Perfeição



Procuro, onde repassar o corpo.
Deixar todas as marcas do silêncio e,
Sorver toda a alegria da palavra incendiada

Penetrar, onde o ardor é mais rumoroso,
Sendo, a corola do ventre, a salvação dos lábios.

E o caos da carne, tão perto está, da perfeição plena,
Quando, pelos espelhos, chega o leite derramado dos seios.

Nada mais sublime e próximo dos deuses, que,
Dois corpos juntos, olhando-se no mais íntimo,
De toda a luz derramada no êxtase.

Joaquim Monteiro


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