terça-feira, 23 de outubro de 2012

Rubra



Há uma rosa rubra na noite
uma rosa de silêncios e segredos

estende-se na madrugada

ninguém sabe das pétalas irisadas
pelo orvalho.

Há uma rubra rosa na noite
é tua

Sílvia Chueire


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Poemasoch




Mesmo que me negues
a umedecida boca
ainda sim te amo

Mesmo que me traias
na espiral do fumo
ainda sim te amo

Mesmo que me subjugues
às pálpebras da noite
ainda sim te amo

Mesmo que me açoites
com teu carinho de relva
ainda sim te amo

Mesmo que me silencies
com tua saliva rubra
ainda sim te amo

Mesmo que me afastes
e mansamente me rejeites
ainda sim te amo

Amo-te assim e ainda
desconcertado fico e te amo
Entre a palavra e o gesto
 (no previsível canto da solidão)
resta o ato em que me completo:
porto oportuno do gozo
ferrão de vespa na pele da paixão

Anibal Beça


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Eis como eu gostaria de amar




Há certas leituras que nos fazem tomar consciência de que nada vivemos, nada sentimos, nenhuma experiência temos.

Só agora me dou conta de como as minhas experiências eram pura e simplesmente mecânicas, anatômicas.

Os sexos tocavam-se, confundiam-se, sem provocar qualquer faísca, qualquer sensação, qualquer perturbação.

Como vir a conhecer tudo isto? Como poderei eu começar a sentir - a sentir mesmo?

Gostava de ficar tão apaixonada que só de ver ao longe o ser amado me sentisse abalada, trespassada, sem forças, ficasse a tremer e a derreter-me toda entre as pernas.

Eis como eu gostaria de amar, tanto... que só de pensar no objeto amado...
atingisse o orgasmo.

Anais Nin


domingo, 14 de outubro de 2012

Ciclos eternos




Entre encontros
desencontros,
nossa poesia se deita na cama
abusando da chama
que nos consome
ao chancelar na pele
uma cicatriz que é
apenas nossa.

Entre silêncios
afastamentos,
nossa poesia se estampa
explícita na cama
fazendo do sagrado e do profano
o mistério
que não se desvela
mas que se escancara
no desejo que nos invade.

Entre dúvidas
culpas,
nossa poesia incendeia
a cama de um quarto qualquer
prolongando em nossas almas
um clamor estranho e distante
que, por entre pele com pele,
se reconhece
no pulsar de cada poro,
de cada célula
apenas nossa,
destinadas a um eterno
re-encontro.

Ana Paula Perissé


sábado, 13 de outubro de 2012

Canção




O peso do mundo
         é o amor.
Sob o fardo
       da solidão,
sob o fardo
      da insatisfação

o peso
o peso que carregamos
        é o amor.

Quem poderia negá-lo?
          Em sonhos
nos toca
      o corpo,
em pensamentos
        constrói
um milagre,
         na imaginação
aflige-se
         até tornar-se
humano -

sai para fora do coração
         ardendo de pureza -

pois o fardo da vida
          é o amor,

mas nós carregamos o peso
           cansados
e assim temos que descansar
nos braços do amor
          finalmente
temos que descansar nos braços
           do amor.

Nenhum descanso
        sem amor,
nenhum sono
        sem sonhos
de amor -
           quer esteja eu louco ou frio,
obcecado por anjos
           ou por máquinas,
o último desejo
          é o amor
- não pode ser amargo
         não pode ser negado
não pode ser contigo
           quando negado:

o peso é demasiado
          - deve dar-se
sem nada de volta
         assim como o pensamento
é dado
         na solidão
em toda a excelência
         do seu excesso.

Os corpos quentes
          brilham juntos
na escuridão,
          a mão se move
para o centro
        da carne,
a pele treme
          na felicidade
e a alma sobe
         feliz até o olho -

sim, sim,
           é isso que
eu queria,
          eu sempre quis,
eu sempre quis
         voltar
ao corpo
         em que nasci.

Allen Ginsberg


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Arte-final




Não basta um grande amor
            para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
            que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.

Uma coisa é a letra,
e outra o ato,

            – quem toma uma por outra
               confunde e mente.

Affonso Romano de Sant'Anna


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Do teu cheiro




O gosto da tua pele
sal impregnado em meus lábios
que me mata de sede
à beira da fonte dos teus prazeres.

O teu gosto na minha boca
mel que sacia meus desejos
na hora derradeira
do medo de te perder
em meio aos lençóis.

O teu cheiro impregnado
no meu corpo
perfume raro que nem a chuva
leva de mim...

Ademir Antonio Bacca


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Poema da amante




Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos,
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.
Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.
Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
Na angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.
Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.
Eu te amo
Desde a criação das águas,
desde a idéia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.
Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
Suavemente.

Adalgisa Nery


terça-feira, 9 de outubro de 2012

As tuas mãos





Como podem tuas mãos ser em mim fogo e água
E atearem labaredas e correrem como um rio
E matarem minha sede e serem fogo e arrepio
E serem chama e calor
E serem húmidas brasas
E serem sólidos os teus dedos
E em mim nascerem asas
E voar nas tuas mãos
Fogo, água e arrepio
Tremer ardendo de paixão
E desfazer-me em gotas de água
Entre os teus dedos
Nas tuas mãos
Minha prisão e minhas asas.

Encandescente


domingo, 7 de outubro de 2012

Desejos Lunares




Quero ser aquela que te afaga
Porque há carícias de mar em meu desejo
E no teu beijo um desvio de cais.

Quero ser a única que te sente
Com suplícios de sangue em minha pele
e volúpias de ondas imortais em minha alma.

Quero ser aquela que te toca
E que ao te sonhar com luzes prateadas
Me faz a lua nascente companheira
Do teu perfume em meu corpo.

Ana Paula Perissé


sábado, 6 de outubro de 2012

Encantamento




Contemplo em silêncio
teu corpo inerte
que o claro de lua
revela
na noite insone

nenhum galo cantor
nenhuma música vindo de longe
a quebrar o encanto dos meus olhos

só o silêncio
e o movimento
dos meus dedos
desenhando o mapa
do teu corpo

Ademir Antonio Bacca
in “Grito por dentro das palavras”


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Razões do Amor II




Gosto de ti
desesperadamente:
dos teus cabelos de tarde
onde mergulho o rosto,
dos teus olhos de remanso
onde me morro e descanso;
dos teus seios de ambrósias,
brancos manjares trementes
com dois vermelhos morangos
para as minhas alegrias;

de teu ventre - uma enseada
- porto sem cais e sem mar -
branca areia à espera da onda
que em vaivém vai se espraiar;
de teu quadris, instrumento
de tantas curvas, convexo,
de tuas coxas que lembram
as brancas asas do sexo;

- do teu corpo só de alvuras
- das infinitas ternuras
de tuas mãos, que são ninhos
de aconchegos e carinhos,
mãos angorás, que parecem
que só de carícias tecem
esses desejos da gente...

Gosto de ti
desesperadamente;

gosto de ti, toda, inteira
nua, nua, bela, bela,
dos teus cabelos de tarde
aos teus pés de Cinderela,
(há dois pássaros inquietos
em teus pequeninos pés)
- gosto de ti, feiticeira,
tal como tu és...

 J.G. de Araujo Jorge


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Ternura




Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar                                                                      extático da aurora.

Vinícius de Moraes


quarta-feira, 3 de outubro de 2012



Me procure quando a sede
for maior que o medo
e a intenção,
maior que a dor...

Me procure através das palavras:
- sou suscetível, mas guardo segredo...
vivo na expectativa da flor.

Me procure sem hora marcada,
não devo satisfações à ninguém.
Sou meio bicho do mato, s
ó não suporto desdém...

Me procure quando a noite for longa,
quem sabe um carinho seja bem vindo...
mas não se iluda,
depois da manhã,
estou quase sempre partindo.

Angela Lara


terça-feira, 2 de outubro de 2012




Te provocarei
usando apenas gotas de perfume
e um colar de pérolas!
aguçarei tua libido
desfilando meu corpo ante teus olhos
quero roçar meus lábios na tua nuca
sussurrar palavras provocantes
em em teu ouvido
encostarei em tuas costas
deixando que sintas meus mamilos tesos
minha língua contornando teu pescoço
minhas mãos acariciando teu corpo
minhas coxas roçando nas tuas
te provocarei
porque te quero muito...muito meu!

Glo Ribolli


segunda-feira, 1 de outubro de 2012




Prendi o desejo entre as coxas
Retive a vontade de te dar
De te mostrar
O segredo/desejo
Que entre as coxas guardei.
Esperei as tuas mãos
E deixei jorrar o desejo
E mostrei-te o segredo
Que entre as coxas guardava.
Agora são tuas as marcas,
No cheiro que nas tuas mãos ficou
No sabor que a tua boca guardou,
De um secreto desejo
Antes retido
Entre as minhas coxas fechadas.

Encandescente


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