sexta-feira, 29 de abril de 2011

Me leves



Quando te fores
Se guardares de mim um calor
Me leves
Se lembrares de mim um bocado
Me leves
Se gostaste do meu abraço
Me leves
Se te agradas o meu sexo
Me leves
Se te provoco um sorriso breve
Me leves...

Que nem te darei trabalho...
Serei indelével como uma flor
Leve como uma pipa
Molhado como um sabor
Flexível como uma ripa

Me leves
num carinho que sai
Me leves
numa emoção que fica
Me leves
num sonho de paz
Me leves
numa rima rica

Me leves
Nem que seja em pensamento
Nem que seja em sofrimento e dor
Mas me leves, por favor...

Que nada de bom
Tenho a fazer por aqui
Que justifique ficar sem ti
Nesta idiotia de vida breve...

Por isso tudo,
me leves amor.

Gê Muniz

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Feitiço



Meu coração e o seu
Sorriem
Quando se tocam,
Quando se beijam.
Corações saindo da boca
Em forma de línguas,
Línguas ardendo,
Tocando o céu da boca,
Buscando estrelas.
Delírio, paixão, desvario...
Quando o meu coração
E o seu coração se tocam
Provocam tudo isso.
Ainda mais,
Mais do que isso,
Fazem amor,
Fazem feitiço.

Otacílio Cesar Monteiro

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Ó meu amado



Ó meu amado, como é doce ir ao lago,
banhar-me à tua vista, mostrar-te a minha beleza,
quando o meu vestido do mais fino linho, de um linho digno de uma rainha,
se molha para se ajustar a cada curva do meu corpo.
Eu estou na água muito antes de ti
e regresso para junto de ti com um belo peixe vermelho
escondido na minha mão.
Vem e olha-me!

Poema egípcio, provavelmente do séc. XIII a.C.

sábado, 23 de abril de 2011

Beijo



Um rapaz beijou-me ontem à tarde
E o seu beijo era um vinho perfumado
Tão longamente bebi nesses lábios o vinho do amor
que ainda agora me sinto embriagada.

Anônimo - Grécia (séc. I a.c.)
Trad.Jorge Sousa Braga

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Corpo


Teu corpo
não se
comporta
mas me
comporta

Tchello

domingo, 17 de abril de 2011

Beijo



Eu não encostei logo em teus lábios,
Embora estivessem tão próximos dos meus
Que uma folha de papel de seda não poderia passar entre eles.
Eu os rodeei, devagar.
Minha boca, entreaberta, respirava sua semelhante.
Demorou. Demorou como demora o tempo amoroso.
De tanto respirar, nossos lábios secaram.
Eu molhei docemente teus lábios com a língua,
E em seguida molhei meus lábios nos teus.
Lentamente.

Hélène Pedneault

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Nem velas nem molho branco



Nem velas nem molho branco
hoje nosso jantar
acontece por baixo da mesa

desfias minhas pernas de seda
teu beijo promete mais tarde

jogo a toalha de renda no chão
me rendo

Martha Medeiros

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Monumento



Monumento
tu
nua
num
momento
sem
nem
um
movimento

Tchello

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Avesso



A minha roupa virada do avesso,
com as costuras à mostra:
pequenas cicatrizes do meu corpo.
Procurar equilibrar um anjo
nas tuas longas pernas,
é assim que me tens...
e manténs.

Lourdes Espínola

sábado, 9 de abril de 2011

Tempo de espera



De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e, nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto, algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre, ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim, unidas,
Machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos
No mais profundo silêncio. E, sem palavras,
Partíamos com as mãos docemente amarradas
e os corações estoirando uma alegria breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossa despedida.

Joaquim Pessoa

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amar-te em meus silêncios



Deixa-me amar-te em meus silêncios
Na calmaria do teu coração que me acolhe
E de onde se desprendem meus sonhos
Em vôos etéreos de plena liberdade

Deixa-me amar-te em minha solidão
Ainda que meus labirintos te confundam
E que teus fios generosos de compreensão
Emaranhem-se no tapete dos meus enigmas

Deixa-me amar-te sem qualquer explicação
Na ternura das tuas mãos que me sorriem
Escrevendo desejos em versos despidos
Na minha alva tez que te cobre e descobre

Deixa-me amar-te em meus segredos
Para que desvendes o que também desconheço
A alma dos meus abismos onde anoiteço
E meus olhos adormecem embalados pelo mistério

Deixa-me amar-te em tuas demoras, longas horas
Em que meu corpo se veste de céu à tua espera
E minhas mãos em frenesi acendem estrelas
Para alumiar-te, ainda que ausente estejas...

Fernanda Guimarães

terça-feira, 5 de abril de 2011

Teu corpo



Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.

Eugénio de Andrade

domingo, 3 de abril de 2011

Amor e seu tempo



Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe

valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade

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