domingo, 25 de abril de 2010

Fazer amor

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O amor, para fazê-lo
É preciso muito, muito tempo;
Pouca, quase nenhuma pressa
E uma certa habilidade mística

É preciso ter mãos leves e lésbias
Pousadas feito pássaro
Sobre o verão da carne
E ousar um determinado voo.

É necessário um divertimento
Dos ossos e dos músculos,
Algo como uma partida de futebol
Ao entardecer da vida.

É preciso uma certa displicência,
Um completo desprendimento
De todas as coisas;
Que nada no mundo interfira no amor.

É preciso um completo silêncio,
Um silêncio vegetal anterior às palavras,
Um silêncio de dois antigos olhares que se entrecruzam
Ouvindo o sangue nas veias correr.

É preciso redescobrir aquela antiga
Prática perdida pelos homens
De fazer uma rosa se abrir
Dentro dos olhos de uma mulher.

Inácio de Oliveira

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sexta-feira, 2 de abril de 2010

Por que te negas?

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Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha ... rosa de lume?

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.

Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!

E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
... Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!

Antonio Botto

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quinta-feira, 1 de abril de 2010

Frêmito

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Frêmito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,
Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas ...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas ...

Forbela Espanca

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