domingo, 31 de julho de 2011

Em prece



Eu não quero apenas um corpo,
para ser tocado e me tocar.
Não quero apenas uma boca
que me beije.
Quero alguém com quem me dividir
Alguém que possa tocar minh'alma
além do meu corpo.
Quero e vou muito
além das superfícies.
Quero o profundo
e o profano,
o sagrado
e o mundano....

Patrícia Gomes


sexta-feira, 29 de julho de 2011



Teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo

Um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
para eu brincar de novo

Alice Ruiz


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Delírios



Esta noite sonhei com
Teus lábios a beijarem
Os grandes meus,

E amanheci orquestrando sorrisos
Em gozo.

Patrícia Gomes


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Aconchego-me às tuas costas



Achego-me às tuas costas,
côncava pro convexo,
agora que o sono é o perfume
a emaranhar teus cabelos;

Agora que tuas ancas se aquietam, as minhas
aconchegam-se aos teus sonhos, juntando os
arrepios que versejam, em braile, pelas páginas dos
nossos corpos: livros livres

Agora que sua nuca se oferece
pr’um carinho lascivo, deixo um suspiro sonhado, e
cerro as pálpebras pra te sonhar
enroscado no círculo de meus braços...

Daniela Novais e Patrícia Gomes


sábado, 23 de julho de 2011

Ardências



Põe-me no ventre
um beijo e
tua semente

que te relevo
a fúria da pegada
e a seda rasgada.

Patrícia Gomes


quinta-feira, 21 de julho de 2011

Devota



É pra você
O meu leite adocicado
Que como gotas de mel
Adoça sua boca

É pra você
Os meus fartos peitos
De mamilos túrgidos
Quando tua língua
Por ele brinca

É pra você
Minhas carnes
Boca, seios e vulva
Para que possas beber-me sempre
Em leite, saliva e gozo...

Patrícia Di Carlo


terça-feira, 19 de julho de 2011

Salmo



Coloca uma palavra
no vale da minha nudez
e planta florestas de ambos os lados,
para que a minha boca
fique toda à sombra.

Ingeborg Bachmann


domingo, 17 de julho de 2011

Rota de colisão



Digo para o meu desejo
esquecer o rumo do teu corpo
te largar numa esquina feminina
perder o endereço das tuas mãos.
Ando amnesiada pelos sóis de agosto
distribuindo risos postais
mostrando que não te quero
... mas te busco
nas bocas que beijam avidamente
como se a vertente
de incontroláveis prazeres
atraísse a velocidade dos ônibus metropolitanos
aos becos escuros dos subúrbios.

Elíude Viana



sexta-feira, 15 de julho de 2011

Coração Composê


Vista-se
De amor por mim
Só assim,
Eu me visto de você...

Enise

quarta-feira, 13 de julho de 2011

As vestes



Enfrentei furacões com meus vestidos claros.
Quem me vê por aí com esses vestidos estampados
não imagina as grades, os muros
o chão de cimento que eles tornaram leves.
Não se imagina a escuridão que esses vestidos cobrem
e dentro da escuridão
os incêndios que retornam cada vez que me dispo
cada vez que a nudez me liberta dos seus laços.

Iracema Macedo


segunda-feira, 11 de julho de 2011

Amar e ser amado



Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!

Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida

P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos, perderem-se no oceano -,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,

Confundido também, amante – amado –
Como um anjo feliz... que pensamento!?

Castro Alves


domingo, 10 de julho de 2011




Minha pele papel..
seus dedos caneta
deixa a vida escrever poesia na gente.

Renata Fagundes


sexta-feira, 8 de julho de 2011

Além dos limites



Para experimentar o amor
tens de falar as palavras
em que ardem as ousadias

Sabores e perdições
e depois
esquecer de todas elas

quando se tornaram demais

Jade Dantas


quarta-feira, 6 de julho de 2011



Quereis tocar-me.
Pensais conhecer as minhas chaves.
Quereis arrancar o coração de meu mistério.
Quereis tirar-me sons das notas mais altas
até as mais baixas... e apesar de haver som,
excelente melodia, nesse pequeno instrumento de sopro,
não podeis fazê-lo falar.

Pelo sangue de Cristo!
Jugais que sou mais fácil de ser tocado
do que uma flauta?

Dai-me o nome do instrumento que quiserdes,
não sabeis tocar-me.

Shakespeare
In Hamlet


segunda-feira, 4 de julho de 2011

Roteiros




Traz os teus gestos de seda
aos meus olhos de remanso

Escala os meus caminhos
percorre os meus roteiros

Vira o tempo pelo avesso
dá-me teu corpo de abismos

Volta a acender a faísca
que inicia o incêndio

Jade Dantas


sábado, 2 de julho de 2011



Tu me bebes
e eu me converto
na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda
mais despida.

Pudesse eu ser tu
e em tua saudade ser
a minha própria espera
Mas eu deito-me
no teu leito quando apenas
queria dormir em ti,
E sonho-te quando
ansiava ser
um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor:
simples perfume, lembrança
de pétala sem chão
onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há
depois do mar.

Mia Couto


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