segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Na tua boca

 

 

danço nos teus lábios
em movimentos suaves
que me relaxam

danço na tua língua
em movimentos ousados
que me excitam
 

Helena Fonseca

 

 

 

 

domingo, 30 de janeiro de 2022

Da pequena morte

 

 

 Alimento a tua pele silenciosa
enquanto renovas a paz do meu sangue
a febre o sismo a transparente crueldade
onde naufragamos onde agora
o pão e o sol e o canto inventamos
A noite convoca o arco distendido
a ponte reconstruída
dos corpos amantes
Alimento com minhas armas vagarosas
a luz que nos une até aos ossos até
ao núcleo em que terra e fogo desfazem
no corpo a pequena imitação da morte

Casimiro de Brito

 

 

sábado, 29 de janeiro de 2022

Bastava-nos amar

 


Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?

O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.

Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.

Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.

E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.
 

Joaquim Pessoa

 

 

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

No meio dia te penso

 


No meio-dia te penso
Íntima te pretendo.
Incendiada de mim
Contigo morrendo
Te sei lustro marfim e sopro.
E te aspiro, te cubro de sussurros
Me colo extensa sobre tua cabeça
Morte, te tomo.
E num segundo
Ouvindo novamente os sons da vida
Nomes, latidos, passos
Morte, te esqueço.
E intensa me retorno sob o sol.
 

Hilda Hilst 

 

 

 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Porque não vens agora

 


Porque não vens agora, que te quero
E adias esta urgência?
Prometes-me o futuro e eu desespero
O futuro é o disfarce da impotência.
Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais. 

A sombra do alento é o desalento
O desejo o limite dos mortais.

Miguel Torga 

 

 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Arisca

 

 

feroz selvagem arisca
como toda fera
às vezes até cruel
busca chegada de uma primavera
em minha vida
minha maldita querida
meu mel

Bruna Lombardi

 

 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Não conhece a arte de navegar

 

Não conhece a arte de navegar
quem nunca navegou no ventre
de uma mulher, remou nela,
naufragou
e sobreviveu numa das suas praias.

Cristina Peri Rossi

 

 

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