danço nos teus lábios
em movimentos suaves
que me relaxam
danço na tua língua
em movimentos ousados
que me excitam
Helena Fonseca
danço nos teus lábios
em movimentos suaves
que me relaxam
danço na tua língua
em movimentos ousados
que me excitam
Helena Fonseca
Alimento a tua pele silenciosa
enquanto renovas a paz do meu sangue
a febre o sismo a transparente crueldade
onde naufragamos onde agora
o pão e o sol e o canto inventamos
A noite convoca o arco distendido
a ponte reconstruída
dos corpos amantes
Alimento com minhas armas vagarosas
a luz que nos une até aos ossos até
ao núcleo em que terra e fogo desfazem
no corpo a pequena imitação da morte
Casimiro de Brito
Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.
Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.
Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.
Joaquim Pessoa
No meio-dia te penso
Íntima te pretendo.
Incendiada de mim
Contigo morrendo
Te sei lustro marfim e sopro.
E te aspiro, te cubro de sussurros
Me colo extensa sobre tua cabeça
Morte, te tomo.
E num segundo
Ouvindo novamente os sons da vida
Nomes, latidos, passos
Morte, te esqueço.
E intensa me retorno sob o sol.
Hilda Hilst
Porque não vens agora, que te quero
E adias esta urgência?
Prometes-me o futuro e eu desespero
O futuro é o disfarce da impotência.
Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento
O desejo o limite dos mortais.
Miguel Torga
feroz selvagem arisca
como toda fera
às vezes até cruel
busca chegada de uma primavera
em minha vida
minha maldita querida
meu mel
Bruna Lombardi
Não conhece a arte de navegar
quem nunca navegou no ventre
de uma mulher, remou nela,
naufragou
e sobreviveu numa das suas praias.
Cristina Peri Rossi