segunda-feira, 2 de julho de 2018

Volúpia



No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frêmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade...
A nuvem que arrastou o vento norte...
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vermelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves arabescos
Vão-te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...

Florbela Espanca






Vem morrer vivendo nos meus braços
Preenche com meu colo teus espaços
Do avesso do meu não, faz o teu sim
Vem poetar de amor dentro de mim

Grita o aroma rubro do desejo em flor
Perde teu gosto fulvo desta pele em cor
Pensa nas sombras de gemidos vãos
E faze de meus lábios tuas mãos

Sente meu toque no teu toque exangue
Vive meu gozo em teu próprio sangue
Dá-me teu beijo para que eu afague

Dá-me teus olhos para que eu me afogue
Teu pensamento onde minh’alma cabe
E que meu corpo no teu corpo acabe

Lilia Chaves




Amor

Teus olhos se espreguiçam no meu peito
e dormem o riso morno das abelhas
tontas de mel rolando
amor - amado...
Teus lábios escrevem poemas sós, secretos,
nos meus lábios lacrados desta sede
que só tu sabes a paixão imensa...
Tuas mãos debulham rimas
em todo o meu dorso dourado
da tua presença
à sombra da tarde que escoa...
Tentar ficar longe de ti é fiasco, é legenda.
Fica rente a ti blasfêmia que Deus abençoa.

Adalcinda Camarão




Saudade



Segue-me noite e dia o teu desejo!...
Oiço a tua voz rúbida e cantante
Suplicar-me a carícia do meu beijo,
numa teima exigente e perturbante!

E o meu corpo vencido, dominado,
vai tombar doloroso, inconsciente,
sobre a lembrança morna do passado
- e fica-se a sonhar... perdidamente!

Judith Teixeira




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