domingo, 27 de fevereiro de 2011

Teus lábios de navegar



Refazem teus lábios
minha pele lassa
e rios traçam,
de sangue em rebuliço
de mar sem tempo marcado,
teus lábios de me tomar.
Tanto tempo desfazes
com teus beijos
e o sol tem outro alumiar
de passeio e pipa, no ar
e a pele que com teus beijos devassas,
são rosas avermelhadas
de amor, guardando o viço,
o fogo de me queimar.
Tanto tempo, tanto amor
e conheço a saudade de cada pedaço meu
de onde tua língua lenta e doce se vai,
barco de me singrar.
Tanto teus lábios levam de mim
para jardins no mar
o ruim, a escuridão, o siso
e deixam, longe, longe...
em meus delírios, teus risos
em meus rios,
teus lábios a navegar.

Saramar Mendes


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Procuro



No meu leito toda a noite procuro
o amado de meu coração
procuro e não o encontro
é preciso que me levante e rodeie a cidade
caminhos praças
busque aquele que meu coração ama

Procuro mas não o encontro
descobrem-me os guardas
que fazem ronda na cidade

- Vistes aquele que meu coração ama?

Pouco me aparto deles
logo encontro
aquele que meu coração ama

Abraço-o e não o solto
até fazê-lo entrar em casa de minha mãe
no quarto daquela que me gerou

Suplico-vos mulheres de Jerusalém
pelas gazelas ou pelas corças selvagens
não despertem não desvelem
o amor até que ele o queira.

Cântico dos Cânticos
trad. José Tolentino Mendonça


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Estou mais perto de ti



Estou mais perto de ti porque te amo.
Os meus beijos nascem já na tua boca.
Não poderei escrever teu nome com palavras.
Tu estás em toda a parte e enlouqueces-me.

Canto os teus olhos mas não sei do teu rosto.
Quero a tua boca aberta em minha boca.
E amo-te como se nunca te tivesse amado
porque tu estás em mim mas ausente de mim.

Nesta noite sei apenas dos teus gestos
e procuro o teu corpo para além dos meus dedos.
Trago as mãos distantes do teu peito.

Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.
Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.
E eu estou perto de ti porque te amo...

Joaquim Pessoa

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

É tão natural que te possua



É tão natural
que eu te possua
é tão natural que tu me tenhas,

que eu não me compreendo
um tempo houvesse
em que eu não te possuísse
ou possa haver um outro
em que eu não te tomaria.
Venhas como venhas,
é tão natural que a vida
em nossos corpos se conflua,

que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenhas
ou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.

E de ser tão natural
que eu me extasie
ao contemplar-te,

e de ser tão natural
que eu te possua,
em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma
se integrou na forma tua.
Affonso Romano de Sant'Anna


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Do amor que se perdeu



De súbito
sublimo
o teu corpo
[arcabouço de mil demônios
dos quais
- em êxtase -
admiro].

Teu hálito quente
convoca-me às tentações...
mas, sou eu agora
quem decide
como vou me enganar...
[e como quero morrer].

O teu sádico sorriso
não me ilude mais.
A tua retórica
alimentou leões
e o que posso te oferecer
- agora -
é um punhado
de sentimentos baldios
carcomidos e ressequidos
pelo amor que se perdeu.

Não quero mais
ser conjugada
em tuas rimas perfeitas...
[sou imperfeita
- demais -
para isso].

Por certo,
nunca mereci
o teu amor de sacrifícios.

Patrícia Lara


domingo, 13 de fevereiro de 2011

A tua espera



Há um corpo à tua espera
um corpo e um conjunto de signos
nas mãos espalmadas
a te oferecerem o riso,
as avencas na pele,
o perfume.

Há um corpo, um copo de vinho
ao pé da lareira,
no silêncio do lume.

Silvia Chueire


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Quero apenas amar-te



Não vou pôr-te flores de laranjeira no cabelo
Nem fazer explodir a madrugada nos teus olhos.

Eu quero apenas amar-te lentamente
Como se o tempo fosse nosso
Como se todo o tempo fosse pouco
Como se nem sequer houvesse tempo.

Soltar os teus seios.
Despir as tuas ancas.
Apunhalar de amor o teu ventre.

Joaquim Pessoa


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Amor amor amor amor


fotos-mulheres-Jan-Scholz-02

Se abrires os olhos ainda me vejo vestida de azulamor,
amor, amor, amor, amor, amor,
escrevo a palavra repetidamente até ser invisível
na distância do espelho em que me vejo, a distância de amar,
amor, amor, amor de te prender no olhar, no amor,
olhar o amor e amar, amar o gesto de amar,
amor, amor, amor, beber do corpo quente de desejo,
amor, amor, beber o amor, matar a sede de amor,
amor, amor dos que sentem calor e ainda estão vivos,
amor, amor...

E digo ai amor porque amor sem dor não é amor, amor.

Ana Saramago, aqui


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cama y mesa



Apenas empiezo a saborearte
y ya me entran ganas de comerte
mordisquear tus orejas despacio
lamer tu cuello lentamente,
prepararte un aderezo con mi aliento
mezclar tu saliva con mis dedos.

Apenas empiezo a intuirte
y ya me entran ganas de servirte
un manjar de caricias y de halagos
invitarte a degustar mi condimento
sazonar con mis manos tu cintura
hornear el deseo a fuego lento.

Apenas empiezo a tramar la receta
cuando te deslizas con cautela hacia la mesa
y con la exquisita canela de tu boca
dispones ante mí la escapada.

Argumentas que hay exceso de alimento
y que mantienes una dieta muy estricta
me dejas rebosantes las manos de especias
y un desfile se inicia de pucheros y cazuelas.

El orégano previsto en tu mejilla
la pimienta salpicada en tu mirada
la vainilla extendida por tu nuca
la menta en tu piel y la mostaza.

El comino, el limón, la hierbabuena
el romero en tu frente, en tus labios la salvia
el azafrán y el laurel en tus hombros
por tus dientes el anís, la alcaparra.

Uno a uno los ingredientes que aguardaban tu llegada
retroceden a su lugar de origen
y yo, apenas me dispongo a iniciar la retirada
congelo en la memoria el menú del deseo
por si alguna vez te apetece paladearme
y a mí me entran ganas de evocarte
y es que apenas empiezo a conocerte
y ya siento el impulso de adobarte.

Gloria Bosch


sábado, 5 de fevereiro de 2011

O livro da tua pele


 
 
Leio o amor no livro
da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar
de palavras que se
juntam, como corpos, no abraço
de cada frase. E chego ao fim
para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele.

 
Nuno Júdice

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fuego




De sólo imaginarme que tu boca
pueda juntarse con la mía, siento
que una angustia secreta me sofoca,
y en ansias de ternura me atormento...

El alma se me vuelve toda oído;
el cuerpo se me torna todo llama
y se me agita de amores encendido,
mientras todo mi espíritu te llama.

Y después no comprendo, en la locura,
de este sueño de amor a que me entrego;
si es que corre en mis venas sangre pura,
o si en vez de la sangre corre fuego...

Alicia Larde de Venturino

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Teu beijo... o meu crime


What is Love?

Olhas nos olhos meus. E eu vejo neste instante
toda a terra subir a um céu que desconheço.
Olho nos olhos teus. E fica tão distante
o mundo: e todo o fel que ele contém, esqueço.

Sorris... e, contemplando o teu lindo semblante,
o ideal de minha vida, enfim, eu reconheço.
Falas... ouço-te a voz, e, impetuosa, radiante,
num gesto de ternura, os lábios te ofereço.

Beijas a minha boca. E neste beijo grande
- como uma flor que ao sol desabrocha e se espande -,
todo o meu ser palpita e freme e vibra e estua.

Tudo é um sonho, no entanto; o teu beijo... o meu crime.
Mentirosa ilusão! Pobre ilusão que exprime
somente o meu desejo imenso de ser tua!

Yde (Adelaide) Schloenbach Blumenschein


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