segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Única

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Se te sirvo na mesa
A carne quente
Chegas a pensar:
- Como ela é pura!
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Se te sirvo na cama
A carne quente
Chegas a pensar:
- Como ela é puta!
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Não sou pura,
Como queres.
Não sou puta,
Como temes.
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Sou única.
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Oswaldo Antônio Begiato

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domingo, 29 de novembro de 2009

Confissão

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Confesso que sob carícias de tortura
padeço com minha maior loucura:
estar junto de ti,
sentindo o corpo em chamas a me consumir.
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Confesso que, quando me abraças,
minha alma cai em desgraça,
deixa-se dominar e perde o tino,
subjugando-se ao teu sorriso de menino.
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Confesso que te quero tanto...
Esse amor virou magia, encanto;
virou até incurável doença,
se não estiver na tua presença.
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Confesso que o som da tua voz,
sussurrando ao meu ouvidoq
uando ficamos a sós,
desperta impiedosamente meus sentidos.
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Depois desta sincera confissão,
mereço melhor sorte
do que a ameaçadora solidão
com que me acenas como pena de morte.
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Marise Ribeiro
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sábado, 28 de novembro de 2009

Confessurrâncias

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Confessa, sussura, amada
Que me desejas... confessa
Ansiosa, desesperada...
Confessa... sem muita pressa.
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Refreia os teus anseios,
Mas logo a seguir, não cesses,
Me puxa para os teus seios...
Eu quero que me confesses.
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Confessa rindo, chorando,
Nervosa, me percorrendo,
Absoluta, reinando,
Sedenta, amando... querendo...
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Confessa, mas me diz quando...
Confessa...eu sei esperar,
Enquanto vou deslizando
No brilho do teu olhar.
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Luiz Gilberto de Barros

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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Entre Marés

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Como pegadas marcadas na areia
Assim ficaram os teus gestos
Marcados em mim
E o meu corpo foi areal onde caminhaste
Mar onde mergulhaste
E mergulhando emergiste
E no teu mergulho renasci.
E ficaram os gestos marcados
Suspensos
Gravados na areia
Entre marés.
E o meu corpo areal molhado
Aguarda a vinda do teu
Para que em mim voltes a caminhar
Para que me voltes a marcar
Para ser areia que escorre
Nos teus dedos
Para seres mar e onda
Que explode e rebenta em mim.
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Encandescente

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Viagem

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Que praias selvagens são essas
onde tuas curvas ostentam
despudores?
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Que matas virgens são essas
onde tuas vergonhas delatam
indiscrições?
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Que desertos abismáticos são esses
onde meus destinos se precipitam
suicidamente?
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Que montanhas íngremes são essas
onde minhas mãos serpenteiam
cheias de malícia?
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Que lugares fascinantes são esses
delicadamente tatuados em teu corpo
amorenado?
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Onde ficam esses lugares inóspitos?
Eu preciso, mulher, conhecê-los
urgentemente!
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Oswaldo Antônio Begiato

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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Conta-me outra vez

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Conta-me outra vez, é tão formoso
que não me canso nunca de escutá-lo.
Repete-me de novo, os dois da história
foram felizes até vir a morte,
ela não foi infiel, ele nem se lembrou de enganá-la.
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E não esqueças,
apesar do tempo e dos problemas,
todas as noites sempre se beijavam.
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Conta-me mil vezes, se faz favor:
é a história mais bela que conheço.
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Amalia Bautista

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Estrañas formas

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Extrañas formas tiene el amor.
Las galas del deseo se nutren
de harapos de desdicha y de frío.
Por debajo del gozo respiran
los días del hastío futuro.
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Toda humedad acaba en desierto,
todo cuerpo en ceniza -me dices
cuando aún aletea el placer
por mi piel como un tímido insecto.
Todo acaba -repites.
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Te miro
como se mira a un dios cruel y exacto.
De repente me siento muy sola.
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Josefa Parra

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Eu sei, não te conheço, mas existes ...

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Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
Não é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
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É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável,
uma outra maneira de habitares
em todas as palavras do meu canto...
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Joaquim Pessoa

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domingo, 22 de novembro de 2009

A pressa com que se despe

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A pressa com que se despe
Nem na alma lhe apetece
qualquer veste
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A pressa com que se despe
Até da carne e da pele
se pudesse
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David Mourão Ferreira

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sábado, 21 de novembro de 2009

Segredo de ti

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Tenho segredo de
ti
meu amor de meu invento
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convento onde te
fecho
com o meu corpo lá dentro
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tenho segredo de
ti
onde te prendo e me deito
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e onde te roubo
as mãos
para as pôr
sobre o meu peito
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Maria Teresa Horta

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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Ao meu querido

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Uma manhã,
julguei reconhecer a tua silhueta na rua,
e meu coração,
antes mesmo de eu ter
a percepção consciente da tua presença,
parou um instante de bater.
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Porque são certos seres,
a este ponto, inesquecíveis?
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Anos mais tarde,
o som de uma voz que lembrava a tua,
uma fotografia encontrada por acaso,
o teu nome pronunciado por pessoas que não sabem,
e a velha dor acorda,
a despeito de todos os esforços
que eu tenha feito para esquecer…
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Marie-Claire Pauwels

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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Um dia,
quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços.
E a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
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Um dia,
quando a chuva secar na memória,
quando o inverno for tão distante,
quando o frio responder devagar
como a voz arrastada de um velho,
estarei contigo
e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela.
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Sim,
cantarão pássaros,
haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços
e não direi nem uma palavra,
nem o príncipio de uma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade.
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José Luís Peixoto

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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Por quê o amava?

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Se me obrigassem a dizer porque o amava,
sinto que a minha única resposta seria:
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''Porque era ele, porque era eu''.
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Michel de Montaigne

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

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Fechas a porta
e começas a beijar-me...
...
primeiros os olhos,
depois o lóbulo da orelha,
depois o pescoço,
enquanto os teus dedos me abrem a camisa
e me procuram os seios.
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Beijamo-nos de olhos abertos,
como sempre,
e é de olhos abertos que procuro
cada uma das novidades do teu corpo.
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Entramos um no outro de olhos abertos,
como se mergulhássemos
num mar de silêncio e fogo escuro...
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Inês Pedrosa

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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Infernos e delícias

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Muito, muito tempo,
a forma do teu corpo
ficou gravado na memória do meu.
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O desenho das tuas mãos,
a textura da tua pele e o seu gosto,
o teu rosto durante o amor
e as palavras que pronunciavas,
tão diferentes,
aquela linguagem infantil,
aqueles silêncios pesados,
aquela violência
e tudo o que nos fazia oscilar
numa outra dimensão,
onde se misturavam
sem distinção e na mesma exaltação,
inferno e delícias.
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Marie-Claire Pauwels

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domingo, 15 de novembro de 2009

Se não estás...

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...
Tudo é espera, meu amor,
se não estás.
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Silvia Chueire

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sábado, 14 de novembro de 2009

Todas as noites

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Todas as noites me acaricio
com os teus dedos,
fecho os olhos e sugo os teus dedos
sob o contorno dos meus
e conduzo-te pelo meu corpo
como tu me conduzias.
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Todas as noites
tu entras em mim por todas as portas,
a tua língua silenciosa
desperta vertigens desconhecidas
nas partes secretas das minhas orelhas
e dos meus pés.
(…)
Todas as noites
os teus dentes mordem
o meu pescoço
no sitio exato em que o meu corpo
guardava a última fechadura,
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Todas as noites
volto a subir a esse monte
dos vendavais só nosso.
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Inês Pedrosa

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Amava-me por que me amavas

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Como te amei!
Como estava radiante!
O amor dava-me asas.
(…)
Depois de saíres, ficava na cama,
com a cabeça metida debaixo dos lençóis
para encontrar a tua presença.
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Depois do amor
precipitava-me para um espelho,
para olhar o meu rosto.
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Estava tão bonita, tão radiosa então!
Amava-me porque me amavas...
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Marie-Claire Pauwels
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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Felina

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Sentas-te nos meus joelhos.
Sinto a seda, a carícia fluída, o júbilo
acidulado da tua fonte abscôndita.
Possessivo, o teu hálito inunda o tálamo
de essências de nêspera e madressilva.
Um imenso, indomável animal
vai crescendo dentro de mim.
Tu o pressentes, o provocas, o desejas,
leoa majestosa e sôfrega,
ardilosa e núbil.
Poiso os olhos no ângulo dos teus joelhos;
dali irradias um secreto e incondicional morse
de rendição.
O nosso silêncio estua de palpitações,
os nossos corpos consumam a liturgia
que as mãos, ágeis e exactas, preludiam.
Cresce na tua boca a minha fome de ti.
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Cláudio Lima
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Confesso

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Confesso que acordo
Com o sabor dos teus beijos
Espreguiçando-se em meus lábios
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Confesso que saio às ruas
Com tuas carícias insones
Despindo a pele que me cobre
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Confesso que em meus ouvidos
Ainda permanecem os teus gemidos
Musicando minhas lembranças
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Confesso que minhas mãos
Guardam o mapa dos teus tesouros
Quando em tantas viagens te explorei
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Confesso que meu corpo
Ainda tem tua fragrância
Debruçada nua em cada poro
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Confesso que faço correr o tempo
Transformando horas em segundos
Para em teus braços me encontrar
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Confesso que te deito em meus sonhos
Nos cetíneos lençóis do prazer
Deixando as digitais do meu êxtase em ti
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Confesso
E não quero perdão ou indulto
Por meu coração te respirar...
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Fernanda Guimarães
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terça-feira, 10 de novembro de 2009

O meu amor é meu...

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O meu amor é meu e eu sou dele.
O linho horizontal é nossa casa
e eu me aninho a dormir sob sua asa;
amo-o com minha boca e minha pele.
Ele é quem vela e não me diz que vele
porque sua é a chama e minha a brasa.
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O seu fervor ao meu fervor se casa,
clara como a de luz que nos impele.
Desci ao campo raso: ele é meu campo
onde me deito e a erva se derrama;
é meu olhar que voa, pirilampo.
Sem terra irei por terra; ele me chama.
Vou, sem saber por onde, ao mar ou monte.
Sem sua boca eu já não sei ser fonte.
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Renata Pallottini
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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Dá-me vinho

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Dá-me vinho meu amor
dá-me vinho
vinho pela tua boca
deita-me junto ao rio
abraça-me contra a terra
abraça-me dentro de água
mas dá-me vinho
dá-me
sem parar
hoje quero ser tua
da maneira mais louca
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Yvette Centeno
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domingo, 8 de novembro de 2009

Despi-me

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Despi-me toda:
dos dedos ao ventre,
da minha pele à tua,
do meu pulsar à tua mão.
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Estendi-me,
a oferenda dos deuses:
palpitante, morna,
balbuciando segredos.
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E puseste as mãos
em concha, como ninhos,
e sentiste o fogo
e fechaste os olhos.
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A luz brilhante cega
quando não a esperamos.
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Lourdes Espínola
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sábado, 7 de novembro de 2009

Junto de ti

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Venho dormir junto de ti
e o meu corpo é uma coisa diferente
do que se vê ou toca ou sente;
é, fora de mim, essa coluna de ar onde respiro,
olhos que beijam o teu corpo exacto,
as muitas mãos que dobram o teu rosto.
Um deus que dorme,
um deus que dança, e mais
que um mero deus,
o breve amor do tempo.
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António Franco Alexandre
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sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Teu corpo: minha casa

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O teu corpo é a minha casa
teu corpo, teus braços,
teu olhar, são o meu lugar,
o lugar onde quero viver,
onde respiro,
onde sei porque sou.
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Ter-te em mim, meu amor,
ter-me em ti,
é saber o exato lugar
ao qual pertenço,
onde estou inteira,
toda eu.
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Silvia Chueire
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Tu nombre

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Trato de escribir en la oscuridad tu nombre.
Trato de escribir que te amo.
Trato de decir a oscuras esto.
No quiero que nadie se
entere, que nadie me mire
a las tres de la mañana paseando
de un lado a otro de la estancia,
loco, lleno de ti, enamorado.
Iluminado, ciego, lleno de ti, derramándote.
Digo tu nombre con todo el silencio
de la noche, lo grita mi corazón amordazado.
Repito tu nombre, vuelvo a decirlo,
lo digo incansablemente,
y estoy seguro que habrá de amanecer.
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Jaime Sabines
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O sol rompeu

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Tu choravas e eu ia apagando
com os meus beijos os rastos das tuas lágrimas
- riscos na areia mole e quente do teu rosto.
Choravas como quem se procura.
E eu descobria mundos, inventava nomes,
enquanto ia espremendo com as mãos
o meu sangue todo no teu sangue.
Não sei se o mundo existia e nós
existíamos realmente.
Sei que tudo estava suspenso,
esperando não sei que grave acontecimento,
e que milhares de insectos paravam e
zumbiam nos meus sentidos.
Só a minha boca era uma abelha inquieta
percorrendo e picando o teu corpo de beijos.
Depois só dei pela manhã,
a manhã atrevida,
entrando devagar, muito devagar e
acordando-me.
Desviei os meus olhos para ti:
ao longo do teu corpo morriam as estrelas.
A noite partira. E, lentamente,
o sol rompeu no céu da tua boca.
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Albano Martins
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terça-feira, 3 de novembro de 2009

O beijo

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Com a alegria de um menino
ele beijou-lhe
o pólen da pele.
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Girassóis
voaram pelo vento.
Abelhas
teceram o néctar
dos frutos.
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Ele afagou
a ternura das estações
desatou os liames dos ninhos.
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Ele beijou-lhe
a pele dos sonhos
adormeceu no colo
das árvores.
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Figueiras
despertaram o sumo
dos pomos.
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Perfumes
pousaram nos galhos
das nuvens.
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Com o sorriso
de uma criança
ele bebeu-lhe
o pólen da pele
ele beijou-lhe
a tez do silêncio.
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Alexandre Bonafim
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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Beijos e gemidos

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Não me peças palavras, nem baladas,
Nem expressões, nem alma...
Abre-me o seio,
Deixa cair as pálpebras pesadas,
E entre os seios me apertes sem receio.
Na tua boca sob a minha, ao meio,
Nossas línguas se busquem, desvairadas...
E que meus flancos nus vibrem no enleio
Das tuas pernas ágeis e delgadas.
E em duas bocas uma língua...,
- unidos,
Nós trocaremos beijos e gemidos,
Sentindo o nosso sangue misturar-se. Depois...
- abre os teus olhos, minha amada!
Enterra-os bem nos meus, não digas nada...
Deixa a vida exprimir-se sem disfarce!
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José Régio
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domingo, 1 de novembro de 2009

Noite fria

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Deita-te aqui - esta noite,
dentro de mim, está tanto frio.
Se fores capaz, cobre-me de beijos:
talvez assim eu possa esquecer
para sempre quem me matou de amor,
ou morrer de uma vez sem me lembrar.
Isso, abraça-me também:
onde os teus dedos tocarem
há uma ferida que o tempo não consegue transportar.
Mas fecho os olhos, se tu não te importares,
e finjo que essa dor é uma mentira.
Claro, o que quiseres está bem -
tudo, ou qualquer coisa,
ou mesmo nada serve,
desde que o frio fique no laço das tuas mãos
e não regresse ao corpo que te deixo agora sepultar.
Não sentes frio, tu, dentro de mim?
Nunca nevou de madrugada no teu quarto?
Que país é o teu? Que idade tens?
Não, prefiro não saber como te chamas.
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Maria do Rosário Pedreira

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