quinta-feira, 15 de maio de 2025

Trago-te debaixo da minha pele

 



Trago-te debaixo da minha pele.
Apanhaste-me desprevenido.
Atingiste-me o coração, pecado meu.

E agora é tarde para tudo senão para escrever.

O teu coração tão branco a bater perto de mim.
Embora o não ouvisse sei que estava lá.


Pedro Paixão



Deixa-me tatear teu hálito

 



Deixa-me tatear teu hálito
obscuro que estou
de todos os sentidos.

Deixa-me (ao menos) concluir
que essa ilusão de formas
é apenas minha inconclusa
maneira de ocultar-te.

Deixa-me (em sigilo)
beirar a secura do teu corpo
— o abismo de tocar-te.

Hilda Hilst



quinta-feira, 8 de maio de 2025

 



Atravessa os campos da noite
e vem.

A minha pele
ainda cálida de sol
te será margem.

Nas fontes, vivas,
do meu corpo
saciarás a tua sede.

Os ramos dos meus braços
serão sombra rumorejante
ao teu sono, exausto.

Atravessa os campos da noite
e vem.


Luisa daCosta







quarta-feira, 7 de maio de 2025

Beija-me com os beijos da tua boca




Beija-me com os beijos da tua boca.
Tuas carícias melhores do que o vinho
E sê-me luz. Luz total. E água.
Profunda água pelo fogo enamorada,
terra que grita exasperada, plenitude.
E frescura. Fecundidade.
Árvores frondosas, ramagens,
verde iluminado,
primavera, enfim.

Que aroma de ti parte? Olor a fruto?
Tua pele é jasmim?
Flor de laranjeira?
Pétala de alfena e de nardo?
Oh! Tudo! Tudo em ti é perfume
quando ondeias o corpo lindo!
Teus lábios destilam mel,
teus cabelos a essência feliz do rosmaninho
És carne, apenas?
Mas em ti como explicar
a razão de haver no mundo claridade?

Gonçalo Salvado



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