segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Não era o meu nome

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Foi sempre tão incerto o caminho até ti:
tantos meses de pedras e de espinhos,
de maus presságios,
de ramos que rasgavam a carne como forquilhas,
de vozes que me diziam que não valia a pena continuar,
que o teu olhar era já uma mentira;
e o meu coração sempre tão surdo para tudo isso,
sempre a gritar outra coisa mais alto
para que as pernas não pudessem recordar as suas feridas,
para que os pés ignorassem as penas da viagem
e avançassem todos os dias mais um pouco,
esse pouco que era tudo para te alcançar.
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Foi por isso que, ao contrário de ti,
não quis dormir nessa noite:
os teus beijos ainda estavam todos na minha boca
e o desenho das tuas mãos na minha pele.
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Eu sabia que adormecer era deixar de sentir,
e não queria perder os teus gestos no meu corpo
um segundo que fosse.
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Então sentei-me na cama a ver-te dormir,
e sorri como nunca sorrira antes dessa noite, sorri tanto.
Mas tu falaste de repente do meio do teu sono,
estendeste o braço na minha direcção
e chamaste baixinho.
Chamaste duas vezes.
Ou três.
E sempre tão baixinho.
Mas nenhuma foi pelo meu nome.
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Maria do Rosário Pedreira

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