sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Tempestade

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Sê devastador e violento como a tempestade
ao abrir as gavetas, ao depor sobre a mesa
nenhuma razão que outros conheçam.

Alimenta-te
de mim e de ti, guarda as fotografias em paredes
brancas onde nenhuma ave se demore,
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abre-me as feridas, as mais recentes e as antigas.
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Sê brando e lento como as manhãs de dezembro
ao desfazerem-se em neve, esquece os recados,
os pequenos delitos escondidos em segredo.
Os telhados abrigam-nos da maledicência, do azar,
daquilo que o tempo gasta em passar sobre nós.
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Leva-me assim, como um acidente entre os dedos.
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Sê luminoso e intenso, ó meu amor, retrato escondido,
coleciona os declives, ensina-me essa geografia,
sê inocente e puro, mesmo que a noite interrompa a vida
e a nossa pele estremeça.

Deixa que bebamos
apenas se o prazer magoar onde nasce a sede,
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fala-me de mim e de ti, se nos sentarmos nas dunas.
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Francisco José Viegas

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