domingo, 11 de novembro de 2012




Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo esse?
Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?
É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)?
Ou é apenas uma parte desse corpo? E nesse caso, o que, nesse corpo amado,
tem tendência de fetiche em mim?
Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente?
O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar?
De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis.
Adorável quer dizer: este é meu desejo, tanto que único:
“É isso! É exatamente isso (que amo)!”

Roland Barthes


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