sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Eu era a tua poesia





(...)
E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste?
E me respondias, voz trêmula:
estou nascendo agora.
E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde nasceste?
E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.
Era assim que dizias.
Tu eras um poeta
Eu era a tua poesia.

Mia Couto






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