terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Deita-te aqui



Deita-te aqui – esta noite, dentro de mim,
está tanto frio.
Se fores capaz, cobre-me de beijos:
talvez assim eu possa esquecer para sempre
quem me matou de amor,
ou morrer de uma vez sem me lembrar.
Isso, abraça-me também:
onde os teus dedos tocarem
há uma ferida que o tempo não consegue transportar.
Mas fecho os olhos, se tu não te importares,
e finjo que essa dor é uma mentira.
Claro, o que quiseres está bem – tudo, ou qualquer coisa,
ou mesmo nada serve,
desde que o frio fique no laço das tuas mãos
e não regresse ao corpo que te deixo agora sepultar.
Não sentes frio, tu, dentro de mim?
Nunca nevou de madrugada no teu quarto?
Que país é o teu? Que idade tens?
Não, prefiro não saber como te chamas.

Maria do Rosário Pedreira


 

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