quarta-feira, 6 de maio de 2020

Ternura amarrotada



Desvio dos teus ombros o lençol que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol, quando depois do Sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio, como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa
com que nós a despimos assim que estamos sós.

David Mourão Ferreira 



 



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