Toco a tua boca
com um dedo toco o contorno da tua boca,
vou desenhando essa boca como se estivesse
saindo da minha mão,
como se pela primeira vez
a tua boca se entreabrisse e basta-me
fechar os olhos para desfazer
e tudo recomeçar.
Faço nascer, de cada vez,
a boca que desejo,
a boca que a minha mão escolheu
e te desenha no rosto,
uma boca eleita entre todas,
com soberana liberdade
eleita por mim para desenhá-la com minha mão
em teu rosto
e que por um acaso, que não procuro compreender,
coincide exatamente
com a tua boca que sorri
debaixo daquela
que a minha mão te desenha
Julio Cortazar
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