terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Condenado

 

 

Amarrotamos o pano-cru
que reveste o nosso leito
e deixo que o meu peito nu
vista a nudez do teu peito.
E fica a minha pele
colada na tua pele,
em bagas de lume, a transpirar,
até sentir, sem queixume, o teu corpo
apaixonar-se pelo meu corpo,
devagar, bem devagar…
E sinto o meu corpo tremer
ao sentir-te estremecer por dentro
e mil aves abrem asas ao vento
no sereno reflexo de um amanhecer.
E a tua pele…
E a minha pele…
A nossa pele…
Embalo em ti levado pelas marés
descobrindo quem és por dentro
inebriado num arrepio lento
que me percorre de lés a lés.
Queria deter este instante,
deixar cada segundo em suspenso
como o mundo que lá fora nos rodeia,
e ficar exilado em ti, condenado,
despudoradamente nu e apaixonado,
tendo o teu corpo por cadeia.

João Morgado




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