quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Quanto de ti

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Quanto de ti, amor, me possuiu no abraço
em que de penetrar-te me senti perdido
no ter-te para sempre

Quanto de ter-te me possui em tudo
o que eu deseje ou veja não pensando em ti
no abraço a que me entrego

Quanto sentir-te e me sentires não foi
senão o encontro eterno que nenhuma imagem
jamais separará

Quanto de separados viveremos noutros
esse momento que nos mata para
quem não nos seja e só

Quanto de solidão é este estar-se em tudo
como na ausência indestrutível que
nos faz ser um no outro

Quanto de ser-se ou se não ser o outro
é para sempre a única certeza
que nos confina em vida

Quanto de vida consumimos pura
no horror e na miséria de, possuindo, sermos
a terra que outros pisam

Oh meu amor, de ti, por ti, e para ti,
recebo gratamente como se recebe
não a morte ou a vida, mas a descoberta
de nada haver onde um de nós não esteja.

Jorge de Sena

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