quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eu era a tua poesia



- És parecida com a Terra. Essa é a tua beleza.
Era assim que dizias.

E quando nos beijávamos e eu perdia respiração e,
entre suspiros, perguntava: em que dia nasceste?

E me respondias, voz trémula:
estou nascendo agora.

E a tua mão ascendia
por entre o vão das minhas pernas
e eu voltava a perguntar: onde naceste?

E tu, quase sem voz, respondias:
estou nascendo em ti, meu amor.

Era assim que dizias.

... tu eras um poeta.
Eu era a tua poesia.

E quando me escrevias,
era tão belo o que me contavas
que me despia para ler as tuas cartas.
Só nua eu te podia ler.
Porque te recebia não em meus olhos,
mas com todo o meu corpo,
linha por linha, poro por poro.

Mia Couto



Um comentário:

Sonia Parmigiano disse...

|Flor,

Que lindo verso de Mia Couto!

Sensual...belíssimo!!Na medida certa!

Um grande beijo e boa tarde!

Reggina Moon

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